Já reparou que muitas vezes você fala, fala, fala e pessoa receptora não entende nada?!?! Pois é... nessas horas ela está só te escutando... tudo que a gente fala entra por um ouvido e sai por outro.
Claro que isso também acontece com a gente...
Às vezes por não OUVIR perdermos muita coisa.....
Segue o texto sobre esse assunto, do grande Artur da Távola...
Espero que gostem.. é longo mas, vale a pena ;)
beijinhosssss
O dificil facilitário do verbo ouvir
Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas, como a interpessoal, é o de como o receptor, ou seja, o outro, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa falou.
Numa simples cena de telenovela, noticia de telejornal ou num simples papo ou discussão, observo que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento.
Na conversação dá-se o mesmo. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
Diante deste quadro venho desenvolvendo uma série de observações e, como ando bastante entusiasmado com a formulação delas, divido-as com o competente leitorado que, por certo, me ajudará, passando-me as pesquisas que tenha a respeito.
Observe que:
1. Em geral o receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que o outro não está dizendo.
2. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que quer ouvir.
3. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir.
4. O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que imagina o que o outro ia falar.
5. Numa discussão em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase só o que estão pensando para dizer em seguida.
6. O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que gostaria de ouvir que o outro dissesse.
7. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve apenas o que está sentindo.
8. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando.
9. A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ela retira da fala da outra apenas as partes que tenham a ver com ela e a emocionem, agradem ou molestem.
10. A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Vale dizer, ela transforma o que a outra está falando em objeto de concordância ou discordância.
11. A pessoa não ouve o que a outra está falando: Ouve o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra.
12. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve a fala dela apenas nos pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vistas que, no momento, a estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar. O que há, em geral, ou são monólogos simultâneos trocados à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo.
O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois, sem que, necessariamente haja comunicação. Esta se dá quando ambos os pólos ouvem-se, não, é claro, no sentido material de "escutar", mas no sentido de procurar compreender, em sua extensão e profundidade, o que o outro está dizendo.
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante o ato.
Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interfere como um ruído na plena recepção daquilo o que o outro está falando.
Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ato de ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem de si mesmas. Elas precisam "não ouvir" porque "não ouvindo" livram-se da ratificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem e assim por diante. Livra-se do novo, que é saúde, mas apavora. Não ouvir é, pois, um sólido mecanismo de defesa.
Ouvir é um grande desafio. Desafio de abertura anterior; de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza. Ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria.
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